Quem é fechado com o certo e não mora no Rio ou arredores deve estar achando sensacional esse périplo do Flamengo pelo Campeonato Brasileiro. Diferentemente do século passado, quando o Flamengo habitualmente partia mata adentro para divulgar a nossa doutrina, no século XXI tem sido bem difícil ver o Flamengo jogando em localidades que não possuem um time no Brasileiro ou na Copa do Brasil.
A galera adora quando o Mengão chega todo lindão em vermelho e preto fulgurante nas suas cidades. E dada a raridade da ocorrência do evento os locais não medem despesas e abarrotam de dinheiro o caixa dos organizadores do jogo por mais absurdos que sejam os preços cobrados. As torcidas off-Rio são apaixonadas, mas também são, ainda bem, bastante intolerantes com a perebagem. E não são nem um pouco menos Flamengo que nenhum bem vestido que more perto do Maracanã.
Parece ser uma fórmula de sucesso de bilheterias infalível ter o Flamengo jogando em todo o Brasil e não apenas no Rio de Janeiro. É bastante lógico pensar que as vantagens econômicas e o estreitamento na relação com torcedores vivendo à milhares de quilômetros da Gávea só podem fazer bem ao Mengão.
Mas talvez essa questão seja mais complexa do que aparenta. Talvez o bom costume do artista em ir onde o povo está não seja o mais vantajoso pro Flamengo. É fato que, no momento, o Flamengo não está ganhando dinheiro com essa Caravana Rolidei. Em Brasília o mando era do Santos e em Juiz de Fora o público decepcionou (muito porque os organizadores ficaram de goela grande e aumentaram o preços dos ingressos). Amanhã mandaremos nosso jogo em Florianópolis. Será que dessa vez o Flamengo consegue ganhar algum dinheiro com a sua própria torcida?
Dinheirismo à parte, temos que considerar também o custo técnico desses jogos em casa longe da Gávea. O Flamengo paga um preço alto pra vestir sua camisa listrada e sair por aí, abrindo mão do mando de campo e, teoricamente, aumentando as chances dos adversários. O fato de estarmos sem jogar no Maraca desde 2010 talvez não nos deixe perceber, mas por mais flamenga que seja a cidade nunca é a mesma coisa jogar longe de casa.
Talvez os jogadores nem gostem da rotina de hotel e aeroporto que é parte inseparável dessas caravanas. E, pelo menos no Flamengo, quando esses caras não gostam de alguma coisa dão logo um jeito de manifestar seu descontentamento. Geralmente jogando mal, fazendo corpo mole ou, simplesmente, perdendo mais jogos do que deveriam.
Da combinação time fraco com jogadores descontentes e jogos fora de casa não costuma sair coisa boa. Esse nosso jovem time, que sofre de uma preocupante falta de liderança pro bem, precisa de alguma firmeza sob os próprios pés para poder mostrar alguma evolução. Jogar sempre no mesmo lugar já ia ajudar bastante.
É verdade que agora não temos outra saída, já que o Rio de Janeiro está sem estádio mesmo. O que também justifica em parte a maneira improvisada que essa campanha do Flamengo off-Rio está sendo organizada, sem muito planejamento. O que não pode acontecer é deixar pra resolver essa encrenca só depois da Copa das Confederações. Tanto os jogadores quanto os torcedores precisam saber onde serão os jogos com um mínimo de antecedência.
É bonito assumir nossas fraquezas da mesma maneira que nos orgulhamos das nossas fortalezas. O Flamengo é o maior do mundo. Mas é um time sem teto. Não basta encher um estádio de rubro-negros para que ele se torne nossa casa. O Flamengo é um clube nacional, talvez o único do Brasil, mas como todos os outros times do mundo, não pode romper seus laços territoriais e nem se afastar demais das suas raízes. Que todo mundo sabe muito bem onde ficam.
E assim chegamos novamente à mesma velha conclusão. Me perdoem a repetição. O Flamengo precisa urgentemente ter um estádio pra chamar de seu. Que seja acessível à torcida do Rio de Janeiro e que não seja o Maracanã.
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