Clubes como Barcelona, United, City e Chelsea cruzam mais de 30 mil km, cada, e levam suas marcas a todos os continentes durante a pré-temporada
Séculos após o período das grandes navegações, espanhóis e ingleses voltam a expandir suas fronteiras ao redor do mundo em 2013. Os destinos atuais são os mais variados: Malásia, Vietnã, Israel, Palestina, Austrália, África do Sul, Japão, Estados Unidos... Só que a "conquista de novos territórios" não se dá mais na base da força das espadas e armas de fogo, mas na habilidade com a bola nos pés. A pré-temporada europeia é uma oportunidade e tanto para os clubes do continente. Fortalecem suas marcas em territórios antes pouco explorados, o que aumenta a venda de camisas e outros produtos oficiais dos times, fazendo a roda da economia girar e retroalimentar a força financeira nas contratações de novos craques com potencial global, o que atrai cada vez mais fãs.
A maioria dos 20 times da Premier League deixa a ilha britânica para as excursões. Sobrevoa milhares de quilômetros ao redor do planeta e tem compromissos nos quatro cantos do planeta. A Ásia virou uma espécie de centro do futebol nessas últimas semanas (confira no quadro abaixo os destinos de alguns dos principais times da Europa). Até o pequeno Sunderland se exibe por lá, na China. O Chelsea passou pela Tailândia e Malásia e vai para os Estados Unidos, mesmo destino de clubes de menor investimento, como Fulham, Norwich e Stoke City. O Manchester City deu um pulo na África do Sul, enquanto Liverpool eManchester United jogam na Austrália.
Até os italianos, que não fazem tanto oba-oba em torno da preparação e sequer divulgaram um calendário com a programação da pré-temporada, vão romper fronteiras. No próximo fim de semana, Juventus, Milan e Inter estarão nos Estados Unidos para a disputa do Champions Cup com outras cinco equipes, incluindo Real e Chelsea. De lá, Balotelli e cia. seguem para Munique, onde enfrentam o Manchester City pela Audi Cup (São Paulo e Bayern são outros times no torneio).
É bem verdade que nem todos os gigantes europeus adotaram esse espírito aventureiro. Destaques da última temporada, os alemães Borussia Dortmund e Bayern de Muniquesequer deixarão a Europa. Os bávaros não foram além da Itália, onde iniciaram a pré-temporada, em Trentino - na próxima quarta-feira, enfrentam o Barcelona, na Allianz Arena,em jogo com transmissão ao vivo do SporTV, a partir de 13h30m (de Brasília), e Tempo Real no GloboEsporte.com. A equipe aurinegra também só saiu de casa para amistosos na Suíça e na Áustria.
Barça na Ásia e Real nos EUA
Além do início de preparação, ingleses e espanhóis estão de olho sobretudo nas cifras que esses países podem oferecer. O tour do Barcelona, por exemplo, será patrocinado pela Qatar Airways, que desde o último dia 1º de julho estampa sua marca na camisa azul-grená. Para não falar do duelo contra o Santos, no Camp Nou, partida que faz parte de um acordo contratual por conta da transferência de Neymar para a Espanha.
A quase volta ao mundo do Barcelona, que percorrerá em torno de 30 mil quilômetros (para efeito de comparação, a distância imaginária da Linha do Equador tem cerca de 40 mil quilômetros), passará por Israel e Palestina. Além disso, vai levar os catalães à Malásia pela primeira vez na história e os conduzirá de volta à Tailândia.
- Estamos muito ansiosos para ver os tailandeses novamente e retornar ao país após mais de dez anos. Este tour também vai proporcionar nossa primeira visita à Malásia, onde temos muito torcedores. Queremos nos sentir perto deles, especialmente das crianças, para que se divirtam com a equipe e com os nossos jogadores. E que conheçam melhor nosso clube, diferente de qualquer outro no mundo, e também o nosso país - disse recentemente o presidente do Barcelona, Sandro Rosell.
Enquanto o Barcelona vai explorar a Ásia, Cristiano Ronaldo, Kaká e cia. seguem direto para os Estados Unidos, espécie de segunda casa merengue. Explica-se: será a 15ª visita do Real à Terra do Tio Sam. Efeito da geração dos galácticos Ronaldo e David Beckham. Desde o início do século, o Real já viajou sete vezes aos EUA (essa será a quinta seguida).
Chelsea e United entre os maiores 'andarilhos'
Mas ninguém vai gastar tantas milhas de passagem aérea quanto Chelsea e Manchester United. Embora tomem rumos distintos, cada um dos rivais vai percorrer em torno de 37,5 mil quilômetros. Liverpool e City rodarão um pouco menos, cerca de 36 mil quilômetros.
O esforço é recompensado com a presença da torcida nos estádios. Em Sydney, mais de 83 mil torcedores foram ao ANZ Stadium assistir à vitória dos Red Devils sobre o combinado da liga australiana por 5 a 1.
Durante a pré-temporada, o Liverpool comprova o lema de sua torcida, de que "nunca andará sozinho" (You will never walk alone"), arrastando uma legião por onde passa. Na chegada a Jacarta na semana passada, o ônibus passou por um corredor de fãs que coloriam as ruas da capital da Indonésia de vermelho, impressionando os jogadores.
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- Não vou esquecer a recepção que tivemos aqui. Realmente, o Liverpool é muito grande na Indonésia, e conseguimos comprovar isso pelo apoio que tivemos antes e durante o jogo. Fico muito feliz pelo carinho - disse o brasileiro Lucas Leiva, jogador do Liverpool desde 2007.
Na Austrália, os Reds acreditam que levarão 95 mil torcedores nesta quarta-feira ao Melbourne Cricket Ground. Números nada modestos para um país no qual a liga tem média de público de pouco mais de 12 mil torcedores por jogo.
Como forma de retribuir o carinho do público fiel mesmo a muitas milhas de distância, os ingleses têm feito até customização de seus uniformes. No duelo que marcou o retorno de José Mourinho ao banco de reservas do Chelsea, na vitória por 1 a 0 sobre um combinado da Tailândia, em Bangcoc, o time entrou em campo vestindo camisas com nomes e números estilizados na grafia local.
O Arsenal fez o mesmo e foi a campo na segunda-feira com caracteres japoneses em seu uniforme durante a vitória por 3 a 1 sobre o Nagoya Grampus em Toyota. Quando a distância não é obstáculo para mover a paixão dos torcedores, a barreira da língua vira um detalhe.
Metade da torcida do United está na Ásia
A popularidade do Manchester na Ásia tem explicação. Afinal, não são poucas as pesquisas que colocam a torcida da equipe vermelha como a maior do mundo. Em busca de dados mais concretos, os ingleses divulgaram um levantamento em 2012, no qual a empresa britânica Kantar entrevistou 54 mil adultos de 39 países, indicando que o United teria 659 milhões de torcedores - ou admiradores - ao redor do planeta (para se ter uma ideia, de acordo com o censo realizado em 2011, a Inglaterra inteira possui 53 milhões de habitantes).
Segundo os dados divulgados pelo clube, apenas uma pequena parcela dos torcedores moraria na Europa (90 milhões). O restante estaria dividido entre as Américas (71 milhões), África e Oriente Médio (173 milhões) e Ásia (325 milhões, sendo 108 milhões só na China). A pesquisa, que dava aos entrevistados a opção de escolher mais de um time, destacou ainda que o número de fãs simplesmente dobrou entre 2007 a 2012.
- Conseguimos ver a paixão dos nossos seguidores frente a frente em dezenas de cidades quando jogamos ao redor do mundo. Não parecer existir uma praia ou uma rua no mundo onde você não encontre a camisa do clube. Esta pesquisa mostra que a nossa família de seguidores está indo cada vez mais forte - disse, quando a pesquisa foi divulgada, Richard Arnold, diretor comercial do Manchester United.
Antes mesmo de excursionar ao redor do mundo durante a pré-temporada, os Red Devils abriram seus olhos ao mercado externo há duas décadas. Em 1996, a diretoria do clube 20 vezes campeão inglês lançou seu próprio canal de televisão. Apesar das restrições para transmitir jogos ao vivo, a MUTV leva a programação do time para mais de 50 países - como Indonésia e Tailândia -, alcançando, segundo os números da "Forbes", mais de 1 bilhão de pessoas.
Há quem diga que esses números estariam inflacionados, ainda que exista um consenso em torno da ideia de que a torcida do United não só é a maior do mundo como também se expande para além das fronteiras do Reino Unido. Em 2011, por exemplo, a empresa alemã SPORT+MARKT lançou uma pesquisa na qual o clube de Manchester teria a maior torcida do mundo, com 354 milhões de fãs. Barcelona (270 mi), Real Madrid (174 mi), Chelsea (135 mi) e Arsenal (113 mi) viriam logo na sequência, numa clara demonstração do domínio inglês e espanhol longe da Europa.
Teresa Herrera por Champions Cup
Curiosamente, os times italianos, que parecem ter ficado para trás nessa disputa por novos mercados, foram pioneiros em levar jogos de suas competições para o exterior. Em 1993, por exemplo, o Milan derrotou o Torino, pela Supercopa da Itália, em Washington, nos Estados Unidos, diante de um público de 25 mil torcedores. Isso em uma época em que não se cogitava ver o Arsenal jogando, por exemplo, no Vietnã.
É verdade que muito antes dos anos 90 os gigantes europeus já exploravam novas fronteiras. Prova disso é o Real Madrid, que em 1927 fez seu primeiro jogo nos Estados Unidos, no empate por 1 a 1 com o Galicia. Ao longo da segunda metade do século XX, a equipe merengue voltaria várias vezes à Terra do Tio Sam para jogar em Los Angeles, Houston e Nova York.
Mas até lá se tratava de um amistoso ou outro, e não torneios organizados de modo profissional como a Champions Cup, que reunirá oito equipes no início de agosto nos Estados Unidos. Competição que, aliás, estreia no calendário da bola em 2013. Outras, como a Barclays Asia Trophy, que leva as equipes da Premier League de dois em dois anos ao Oriente, são um pouco mais tradicionais. O torneio asiático, por exemplo, começou a ser disputado em 2003 na Malásia, passando ainda por Tailândia e China, até chegar de vez a Hong Kong.
Com essa nova busca para jogar no exterior, antigos torneios tradicionais de verão vão perdendo espaço no Velho Continente, como é o caso dos espanhóis Teresa Herresa, Palma de Mallorca e Ramón de Carranza. O Joan Gamper, em Barcelona, é uma exceção, já que ganha em apelo neste ano por conta da provável estreia de Neymar contra o Santos no dia 2 de agosto. Fora a concorrência de novos torneios, recheados de marketing, que vão aparecendo pela Europa, como é o caso da Audi Cup, na Alemanha, e da Emirates Cup, na Inglaterra.
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